quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fundação quer avançar com recuperação do património

A Fundação Ricardo Espírito Santo Silva deverá concluir este ano o projecto para a recuperação do património edificado no perímetro da Mata do Buçaco. A fundação que gere o espaço estima que a obra possa avançar em 2011 para por travão à degradação daquele património



O Convento de Santa Cruz do Buçaco, as capelas da Via-Sacra e as ermidas da Mata do Buçaco vão ser alvo de uma intervenção para a sua recuperação, a partir do próximo ano, avança o presidente da Fundação Mata do Bussaco, António Jorge Franco.
Esta é a resposta desta nova entidade gestora da mata perante a elevada degradação, em especial das capelas espalhadas pelo interior da mata, muitas da quais vandalizadas e outras a acusarem elevado desgaste, ao ponto de permitir a entrada da água das chuvas destruindo muito daquele património, com algumas peças datadas do final do século 17.
Para já, está no terreno a Fundação Ricardo Espírito Santo (FRES), que já fez o levantamento do património, apurou as causas da sua degradação e apontou as intervenções a fazer no âmbito do “urgente” processo de recuperação. Essas mesmas linhas de orientação foram apresentadas numa conferência sobre a importância da Mata do Buçaco, que juntou várias sensibilidades em torno daquele assunto, entre as quais Nazaré Tojal (FRES).
Segundo aquela responsável, “há medidas urgentes a tomar” em relação 21 capelas da Via Sacra do Buçaco, começando por “estagnar, para já, os factores de degradação do património”, uma vez que “há capelas onde a chuva cai abundantemente no seu interior”, daí que “há situações de carácter urgente a levar a cabo”, como é o caso do património azulejar que está ser perdido, dia após, dia, alertou a técnica, que defendeu que os responsáveis deverão “harmonizar e valorizar o original”, num processo em que “compreender o que lá está será a primeira tarefa, para depois intervir”.


“É o homem aquele que mais estraga”


Sem que ninguém avance para já o possível custo desta obra, o certo é que a FRES e a Universidade de Aveiro, como parceiros da Fundação Mata do Bussaco, estão já a elencar as tarefas a levar por diante para aquele objectivo, depois de diagnosticadas as causas de degradação, o estado geral actual do património e as intervenções já feitas anteriormente, algumas das quais pouco benéficas, disse a especialista, frisando que “há esculturas em terracota presas com cimento ao solo”, situação que nada abona a qualidade dos conjuntos escultóricos da mata.
“A intervenção a fazer-se deve ponderar muito bem todo o envolvimento religioso e simbólico que representa este imóvel”, defendeu Nazaré Tojal, classificando como “grande desafio” o facto de ter pela frente a tarefa de “proteger sem retirar aquele que torna aquele património único”.
Desafio será também – no entender daquela especialista – a forma como será exposto o património, no equilíbrio entre as portas de protecção e a exposição do mesmo ao público, tendo em conta que para este património “o maior perigo é o ser humano”, embora a degradação das obras de arte é causada pela degradação natural e pelos ambientes hóstias, mas “é o homem aquele que mais estraga e isso está bem patente no Buçaco”.
Pelas razões apontadas, Nazaré Tojal, que deixou pistas quanto ao futuro daquele património, numa conferência que abordou a Via Sacra do Buçaco sob várias perspectivas, defendeu ainda que a intervenção a ser feita naquele património deve ser na base do “invisível”, ou seja, “valorizar o que lá está e não colocar lá nada só porque não está”, como explicação para a necessidade da recuperação de algumas figuras bastante degradas.

Mais colóquios para breve

Com as preocupações centradas na recuperação daquele património, a Fundação Mata do Bussaco não sabe ainda quanto pode custar os melhoramentos, mas conta já com o apoio daquelas duas instituições parceiras no combate à degradação natural e ao vandalismo que tem sido sujeito aquele património.
No final do colóquio da passada semana - que juntou à mesma mesa a técnica da FRES, Câmara da Mealhada, o padre Carlos Godinho, o escritor/historiador Joaquim Carvalhão Santos e o presidente da Entidade de Turismo do Centro, Pedro Machado - o presidente da fundação, António Jorge Franco, regozijou-se com o “sucesso” da iniciativa e prometeu “mais conferências e mais colóquios em breve”, que a semana santa do próximo ano “tenha outra dimensão” e que “seja visível já o resultado de algumas tarefas que há pela frente”.
“Que este património possa ser uma mais valia para o turismo do país”, disse aquele responsável, garantindo que para isso “é preciso a ajuda de todos e todo o esforço e empenho nesta grande luta que é a recuperação de todo esse património”.

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