domingo, 19 de fevereiro de 2006



Campo de golfe da Pampilhosa

“Proprietários deveriam ser parceiros e não opositores”

Pedro Sampaio Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo, no governo de Santana Lopes, acérrimo defensor da construção do campo de golfe da Pampilhosa, em entrevista ao Mealhada Moderna, defende que se trata de “um projecto estruturante para a região centro” e que representa “uma forte esperança de reanimação económica e social do concelho”. Criticando a “falta de visão” de alguns proprietários, defende que “deveriam ser parceiros e não opositores” do projecto


Renato Duarte

Mealhada Moderna (MM): Qual o ponto de situação do processo de criação do campo de golfe da Pampilhosa?
Pedro Sampaio Nunes (PSN): Está tudo dependente de um acordo entre as duas centenas de proprietários que detêm os terrenos no local onde queremos que seja construído o campo de golfe. Entre tanta gente é claro que não é fácil que estejam todos de acordo, mas tenho estado em contacto com eles e sinto que há adesão da esmagadora maioria. Porém, há ainda um pequeno núcleo de proprietários com pouca visão da coisas, que pensa que neste momento a agricultura é a melhor aposta para o local. A verdade é que o campo de golfe é um projecto estruturante da região centro. É um concelho de gente beirã, com ideias convictas. Cada proprietário deveria ser um parceiro e um sócio e não um opositor. Têm-se reunido diversas vezes, mas ainda não chegaram a um consenso.

MM: Que vantagens pode trazer a criação do campo de golfe para o concelho, na sua opinião?
PSN: Na minha opinião, será esta a mais forte esperança da reanimação económica e social do concelho. Em Portugal é uma modalidade com enorme procura. Faz parte de um dos maiores segmentos de procura dos reformados, com muito dinheiro. Este é um grupo que procura exactamente regiões turísticas onde não há muito calor. Então, necessitam de alternativas como estas. Mas não só para esse tipo de turismo. Mesmo a nível internacional, há muita procura para o tipo de turismo que envolve o golfe. É o projecto âncora, estruturante da reanimação do concelho. Eu tenho a percepção que o golfe e os SPA são fundamentais para dinamizar o turismo da região. Temos um parque hoteleiro apreciável, que precisa de estruturas importantes como estas. O meu papel foi sempre de dinamizador, desde há vinte anos. Sou proprietário do Solar da Vacariça, que actualmente tem uma média ocupacional bastante baixa. Assim que tenhamos o campo de golfe, passa de ocupação de 20 para 80 por cento.

MM: Em que fase se encontra o projecto?
PSN: Estamos neste momento num ponto de maturidade do projecto como nunca estivemos. Estamos próximos do ponto de não retorno. Mas têm que ser satisfeitos os proprietários. A proposta deverá ser justa para ambos os lados. O ideal era que os proprietários se unissem todos, o que daria um terreno de 120 hectares. Só assim seria possível a construção de um campo de golfe com 27 buracos, com condições para receber as grandes competições internacionais. A autarquia aprovaria então o loteamento, enquanto os proprietários ficariam com a mesma proporção relativa aquilo que tinham. Seria a obra feita com dez milhões de euros. Estou até em contacto com os parceiros financeiros ideais para viabilizar o negócio. É projecto de grande interesse para a zona, desde que devidamente estruturado.

MM: Como avalia o papel da autarquia neste processo?
PSN: Temos que ser pragmáticos. Há já um projecto feito, com muito trabalho investido ali. É um terreno que reúne excelentes condições. Permite viabilizar a dinamização do local e tornar-se o pólo central da região. Porém, numa situação como estas, na qual as autarquias estão impedidas de se endividar, tem que haver inteligência para avançar com um projecto destes. Logo, o terreno deverá ser da Câmara Municipal, e não privado. A autarquia tem essa percepção muito clara, tal como a oposição. Falei já quer com Carlos Cabral, presidente da autarquia, quer com Gonçalo Breda Marques, da oposição, e sei que ambos têm a noção da importância do projecto. Têm ambos uma ideia muito equilibrada e sei que não é por eles que o projecto deixará de avançar.

MM: O que o leva a crer que a região tem as condições ideais para receber tal infra-estrutura?
PSN: A gastronomia fantástica, o sector vinícola, o termal e também o hoteleira. Temos aqui um potencial fantástico e a obra permite desencravar o concelho. Transformar a Mealhada, como a Quinta do Lago, em Coimbra. Já não está tão na moda aquela ideia do sol e do mar, mas sim a saúde e bem-estar. É isso que as pessoas procuram hoje em dia. Vivi durante 20 anos na Bélgica, que tem um terço da área de Portugal. No entanto, para que se tenha uma ideia, têm 60 campos de golfe. Aqui temos todas as condições, e seria um projecto ambientalmente bem conseguido. A questão de preocupação da água que necessitaria a manutenção de uma obra destas não constitui problema.