sexta-feira, 2 de junho de 2006


Gonçalo Breda, na hora de abandonar a liderança do PSD/Mealhada

«Somos hoje um partido de convicções e não de conveniências»

A terminar o seu mandato como líder do PSD/Mealhada, o vereador Gonçalo Breda Marques faz um balanço do que foram seis anos à frente do partido. Satisfeito com o trabalho realizado, entende que hoje o PSD na Mealhada «é um partido de convicções e não de conveniências». Não enjeita a possibilidade de uma nova candidatura à autarquia, e sobre a liderança socialista da autarquia diz que a «marca deste executivo vai ser a de andar a empatar o concelho e a promoverem-se uns aos outros». Estas e outras questões numa entrevista que antecede as eleições para o PSD local e se irá iniciar uma nova liderança interna

Isabel Gomes Moreira

Mealhada Moderna (MM): O mandato da comissão politica do PSD está prestes a terminar. Já estão marcadas as eleições?
Gonçalo Breda Marques (GBM): Falta pouco tempo para terminar o mandato e espero que sejam marcadas eleições ainda antes do verão, mas ainda não têm data definida.

MM: Estatutariamente está impedido de se voltar a candidatar, o que pensa fazer em relação ao seu sucessor?
GBM: Sim, os estatutos do PSD não permitem que a mesma pessoa possa liderar o mesmo órgão mais de três mandatos seguidos. Pretendo ajudar a encontrar a melhor solução e dar todo o contributo possível para dar continuidade a este projecto que se iniciou há 6 anos atrás.

MM: Que balanço faz do tempo que liderou o partido no concelho da Mealhada?
GBM: Tenho muito orgulho no trabalho desenvolvido, tivemos uma voz e uma intervenção em praticamente todos os grandes problemas que preocupavam e alguns continuam a preocupar o nosso concelho. Desde reuniões com Secretários de Estado e Ministros a variadíssimos organismos do Estado, assuntos como o financiamento do Centro de Estágios do Luso, a extensão de saúde do Luso, Vacariça, Barcouço, e a hipótese de Casal Comba, bem como a rotunda de acesso à auto estrada, ou a recuperação da estação da Pampilhosa, o regadio Luso Vacariça, os Viveiros florestais e o investimento na Mata Nacional do Bussaco bem como a sua elevação a Património Mundial, a recuperação da ponte de viadores, o auxilio a várias associações, o projecto da Mealhada a cidade, foram tantos e tantos os assuntos que de alguma forma justificam esta minha sensação de satisfação de dever cumprido. Vivemos durante este período momentos de grandes combates políticos, infelizmente alguns até pessoais, mas que tenho a consciência que tornaram o PSD mais forte, mais solidário e visto hoje como um partido de convicções e não um partido de conveniências.

MM: O que vai fazer a seguir?
GBM: Felizmente tanto no campo profissional como político tenho muitos projectos, muitos desafios e até alguns convites que gostaria de aceitar. No plano local gostaria de intensificar a minha participação na Câmara Municipal e dar o meu melhor pelo nosso concelho.
MM: Odete Isabel dizia em entrevista ao nosso jornal que “a Mealhada está como está porque nunca teve uma oposição organizada”. Como comenta esta afirmação?
GBM: Tenho pela Dr.ª Odete Isabel uma grande estima e admiração pessoal, tanto no plano pessoal como no plano profissional e até político, mas tenho a sensação que percebe tão bem ou melhor do que eu as razões porque o nosso concelho está como está e não se deve seguramente à oposição.

MM: Que avaliação faz do trabalho desenvolvido pelo PS à frente da Câmara Municipal neste mandato?
GBM: Está mais do que provado que não conseguem dar o salto para a qualidade. Tudo é feito com mediocridade, por exemplo se olharmos para a feira do artesanato e gastronomia ou para o torneio de Futsal entre freguesias, apesar de serem boas iniciativas, falta-lhes muito para terem a qualidade que se exige e se deseja, poderiam na minha opinião ser melhor divulgadas, ter muito mais vida, alegria e dignidade. Em relação ao campo de Golf na Pampilhosa não se conhece nenhum desenvolvimento, a Plataforma Intermodal da Pampilhosa parece que tal como o Centro de Estágios do Luso não tem financiamento, o Arquivo Municipal continua com as portas fechadas, prometeram acabar definitivamente com os maus cheiros e afinal tudo continua na mesma, as desigualdades entre freguesias acentuam-se sem que nada se faça, tudo é decidido sem planeamento, segundo o Sr. Presidente em 2003 estariam a instalar-se empresas na zona industrial da Pedrulha, estamos a meio de 2006 e ainda estamos na fase de concursos, as taxas de execução são baixas, os impostos ao contrário do que propusemos são cobrados às taxas máximas possíveis penalizando assim as pessoas e as empresas. Enfim a este ritmo a marca que este executivo socialista vai ter no final do mandato não é de nenhuma obra mas de terem andado a empatar o concelho, e a tentar promover-se uns aos outros por coisa nenhuma.

MM: Como viu a “chamada” de José Calhoa ao executivo?
GBM: Disse ao Sr. José Calhoa em reunião de Câmara que não concordei com a atitude que teve quando aceitou ser candidato à câmara sabendo que se fosse eleito não iria aceitar pelouros. Não acho honesto andar a pedir votos às pessoas e depois não assumir as responsabilidades. Curiosamente ou talvez não numa altura em que a Câmara lamenta as dificuldades orçamentais, e numa altura em que já tinha passado de um Vereador a tempo inteiro e um a meio tempo, para dois a tempo inteiro venha ainda acrescentar mais um a meio tempo atribuindo ainda por cima o pelouro das obras particulares ao novo Vereador a quem não se conhece nenhuma experiência nem conhecimento nessa área.

MM: Como viu as mudanças efectuadas na concelhia socialista e a saída de Carlos Cabral?
GBM: Parece-me que o Sr. Carlos Cabral aproveitou uma oportunidade para se livrar do partido. Mas não gosto de comentar problemas internos de outros partidos.
Rui Marqueiro é dado por muitos como o candidato do PS à Câmara nas próximas eleições. Como vê essa possibilidade?
Mais importante do que a escolha do próximo candidato à Câmara do PS é saber que ninguém vê no actual Presidente condições para se voltar a candidatar. Mal tinha acabado de ser eleito já se falava na sua sucessão, significa por isso que nem os próprios dirigentes e simpatizantes do seu partido vêem nele condições para continuar. Apenas aqueles que estão directamente dependentes do Sr. Cabral e que sabem que não têm futuro político com a sua saída o vêm publicamente defender. Quanto ao Dr. Rui Marqueiro parece evidente a sua vontade, é um homem com experiência política e autárquica com virtudes e defeitos conhecidos, no entanto a esta distância julgo que deveria amadurecer melhor essa ideia para não vir a sofrer nenhum desgosto.

MM: Na Mealhada, já foi candidato por duas vezes à Câmara diz o ditado que não há duas sem três, pensa voltar a candidatar-se?
GBM: O PSD deve escolher sempre aquele que estiver mais bem preparado e em melhores condições para se candidatar.
MM: Não respondeu à pergunta…
GBM: Sou apaixonado por politica, adoro o combate político na verdadeira acepção da palavra, gosto muito de servir o concelho e o PSD, mas neste momento é prematuro colocar esse cenário em cima da mesa.

MM: Acha que na Mealhada ainda existe medo das pessoas se pronunciarem sobre a vida autárquica e concelhia?
GBM: O que sinto realmente é que existem muitas pessoas que me procuram para me expor problemas ou para me incentivar que depois preferem ficar no anonimato. Em meios pequenos infelizmente mistura-se muito as questões politicas das profissionais, pessoas que têm uma “porta aberta” ou negócio, ou que estejam dependentes ou alguém da família dependente de um emprego na Câmara preferem não se envolver. Seria um bom exercício contabilizar o número de familiares e amigos dos responsáveis autárquicos aos vários níveis do concelho que encontraram emprego na Câmara. Continuo a querer acreditar que será pura coincidência…

MM: Foi o responsável principal pela elevação da Mealhada a cidade. Passados estes anos, o que acha que mudou e que benefícios trouxe essa elevação?
GBM: Procurei com esse projecto trazer orgulho à nossa terra, dignificar o nosso concelho, sei que foi bem acolhido pela população e só lamento o comportamento irresponsável e mesquinho de alguns dirigentes socialistas. Tudo fizeram e continuam a fazer para desvalorizar não permitindo explorar as oportunidades criadas, apenas porque o projecto é meu. Prova da intriga que procuraram fazer é que ainda hoje com a maioria no parlamento têm vergonha de avançar com os projectos do Luso e da Pampilhosa que na altura apenas serviram interesse partidários passando por cima e usando os sentimentos das pessoas.

MM: O que acha que a Mealhada precisa que ainda não foi feito?
GBM: Aposta na qualidade, corrigir as desigualdades entre freguesias, alterar o PDM para que mais pessoas possam construir na sua própria freguesia e não tenham que viver noutros locais, na área da educação temos muito a fazer, temos condições para apostar num ensino de qualidade, em infra-estruturas de qualidade, e cortar com o pensamento “ no meu tempo também ia a pé para a escola e não morri”, pensamento retrógrado e que demonstra apenas a insensibilidade do Presidente da Câmara, dar dignidade a quem vive nos bairros sociais do concelho que estão, sobretudo o do Canedo, completamente degradados, investir em espaços verdes, resolver definitivamente o problema dos Viveiros Florestais e da Mata Nacional do Bussaco, bem como resolver o problema dos maus cheiros, ter uma estratégia tanto nacional como internacional para desenvolver o turismo no nosso concelho, olhar para as associações não como rivais mas como parceiros estratégicos de desenvolvimento, na área da saúde não permitir que os prazos de construção da extensão de saúde do Luso se dilatem, sensibilizar o governo para dotar a rubrica aberta pelo anterior governo da extensão de saúde de Barcouço para que possa ser construída com urgência, apoiar a construção da extensão de Saúde da Vacariça, e não baixar os braços em relação à possível extensão na freguesia de Casal Comba, ajudar a garantir acordos com o Ministério da Saúde para que qualquer pessoa possa recorrer aos serviços do novo Hospital da Misericórdia como acontece num hospital público. Na área do desporto e da cultura potenciar as infra-estruturas existentes (melhor gestão dos pavilhões), resolver casos como o cinema do Luso e cine teatro da Pampilhosa, dotar o concelho de melhores Juntas de Freguesia, construir a Câmara Municipal agilizar procedimentos, exigir celeridade nas respostas e envolver as pessoas nas decisões. Há tanto a fazer que não entendo como é que ainda se denota tanta arrogância nos responsáveis do PS na câmara e actuam com tanta calma como se já tudo estivesse feito.

MM: Há muitos anos que os Viveiros Florestais estão ao abandono. Não acha que existe uma falta de vontade politica generalizada em solucionar este problema?
GBM: O que eu acho é que a Câmara já teve a solução na mão e não a aproveitou, podia até nem ser a melhor solução mas pelo menos parte do problema já estaria resolvido.
O que se nota também é que enquanto tínhamos um governo PSD tínhamos um Presidente de Câmara que não perdia uma oportunidade para criticar o governo aproveitando ao mesmo tempo para se promover e se desculpar das coisas que não fazia, e hoje com os problemas mais acentuados não se ouve uma palavra, O financiamento do Centro de Estágios foi esquecido por este governo, os Viveiros estão piores que antes, a Mata Nacional do Bussaco não tem solução à vista, o Piddac foi miserável para o concelho, o orçamento da Câmara foi o mais baixo de sempre, o Secretário Estado que ficou de assinar um protocolo para a reconstrução do cine-teatro da Pampilhosa adia todos os dias a sua vinda, a extensão de Barcouço foi adiada, o concelho esquecido nas “escapadinhas em Portugal”podia citar tantos exemplos só para provar o silencio comprometido do Presidente que trocou a camisola do concelho pela do seu mais recente partido.

Elevação a cidade

«Tudo fazem para desvalorizar o projecto»


MM: Foi o responsável principal pela elevação da Mealhada a cidade. Passados estes anos, o que acha que mudou e que benefícios trouxe essa elevação?
GBM: Procurei com esse projecto trazer orgulho à nossa terra, dignificar o nosso concelho, sei que foi bem acolhido pela população e só lamento o comportamento irresponsável e mesquinho de alguns dirigentes socialistas. Tudo fizeram e continuam a fazer para desvalorizar não permitindo explorar as oportunidades criadas, apenas porque o projecto é meu. Prova da intriga que procuraram fazer é que ainda hoje com a maioria no parlamento têm vergonha de avançar com os projectos do Luso e da Pampilhosa que na altura apenas serviram interesse partidários passando por cima e usando os sentimentos
das pessoas.
(Ler entrevista na íntegra na edição imprensa nº142 do Semanário Mealhada Moderna)

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